domingo, 28 de junho de 2009



Another brick in the wall


Foi um momento mágico quando ouvi pela primeira vez este tema dos Pink Floyd. Tinha treze ou catorze primaveras, andava no terceiro ou no quarto ano do ciclo, naquele magnífico liceu de tijolo maciço e tijoleira rendilhada, antes de descermos para Porto de Mós, sobre o qual, ao cair da noite, corríamos e saltávamos como homens-aranha destemidos, eu e dois colegas. (Eu era o Homem-Aranhiço, pois era o mais pequeno dos três; depois seguia-se o Homem-Aranha e a seguir, mais corpulento, o Homem-Aranhão – era assim que nos tratávamos). Pois bem, por iniciativa da escola, tínhamos ido gratuitamente ao circo, se calhar o Cardinali, ou o Chen (se calhar nenhum destes, não me recordo), junto à velha central a carvão, e foi aí que, enquanto esperávamos pelos palhaços e os leões, a música passou, arrebatadora e arrasante, pelos meus ouvidos, vinda dumas colunas enormes a debitar decibéis como cataratas de som. Foi um momento fantástico e indescritível. Todos se levantaram das bancadas e, em coro, acompanharam ruidosamente, demolidoramente:
Hey teacher, leave us kids alone
All in all it’s just another brick in the wall...
Estranho lugar, este, o circo, para ouvir pela primeira vez aquilo que se tornaria o hino de uma geração! Aquele hey teacher dos meninos de coro da Islington Green School tocara-me profundamente, a mim, que ainda não me interessava nada por música e bandas de rock. Foi enfeitiçante e deixou-me sem palavras. Para além disso, enquanto todos cantavam euforicamente, deitava eu a vista a uma miúda de beleza e sorrisos divinais, de hipnotizantes olhos verdes, não muito longe de mim, mas nunca passou disso mesmo, porque eu era ainda o Lequinhas-tem-vergonha-das-meninas..., o aluno bom acima da média, mas tímido, ingénuo e, como sempre, singelamente imaturo... Bom, vi há dias a miúda – era ela de certeza absoluta –, já casada e com filhos atrás, larga de ancas, celulítica e pouco atraente. Mas a música, esse hino, ficou cá dentro, catapulta-me sempre para outros tempos e inunda-me de emoções.
Bravo, Roger Waters e companhia! “The Wall” é o melhor disco do século XX !
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