segunda-feira, 15 de junho de 2009

O fim do nosso mundo...

Perto da casa do Toino tínhamos uma cabana em cima de uma árvore, primorosamente construída com varas de acácia, envolvida de heras que fizeram um belo trabalho de revestimento ao longo dos anos. Era lá que nos juntávamos para estudar matemática; o Toino dava-me explicações, e se tivesse que lhe pagar por isso, não teria dinheiro suficiente. Mas também nos juntávamos lá com o J. e outros colegas para jogar às cartas e outros jogos de rapazes. Havia lugar pelo menos para quatro ou cinco. Uma mesinha, bancos, prateleiras e, num esconderijo, uma apetecível garrafa de vinho do Porto (coisas do J., claro). O interior estava todo forrado com posters de bandas e ídolos musicais da época, tipo Human League, Depeche Mode, Alphaville, Frankie Goes to Hollywood, Orchestral Manoeuvres in the Dark e tantos outros, mas também The Smiths, The Cure, Duran Duran, Bryan Adams, Simple Minds e U2.
Já a mãe do Toino não tolerava muito bem esta decoração, porque dizia que aqueles grupos e aquela música eram coisa de malucos e uma cambada de drogados... Um dia, o J., que era fanático por carros de rally e Fórmula 1 e obcecado por mulheres bonitas, sobretudo se estivessem nuas, teve a brilhante ideia de arrancar todos aqueles posters (com a nossa conivência) e substituí-los por outros: ficámos literalmente rodeados por seios e traseiros luzidios. Silicone por todo o lado. Até no tecto. Recordo-me de uma Pamela Ander-qualquer-coisa... sim, essa!... que tinha uns belos faróis, segundo as palavras do J. Mas a mais surpreendente, de seios descomunais e ao mesmo tempo assombrosos, colada sobre as nossas cabeças como um peso ameaçador vindo dos céus, era uma tal senhora Lolo Ferrari. Credo! Silicone ou não, que perigo, que mamonas assassinas!... Para o J., já não eram faróis, eram airbags! Os airbags da Ferrari!...
Mas um belo dia, porém, a mãe do Toino descobriu que íamos para a cabana estudar matemática rodeados de voluptuosas e devassas mulheres nuas (salvo seja), e arrancou e queimou tudo – ohhh!... – como na fogueira da Inquisição! Ficámos proibidos de entrar na cabana em cima da árvore por muito e muito e muito tempo. Firme e decididamente.
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